"Há trinta e cinco mil comunidades tradicionais na Amazônia brasileira e dezessete mil delas não
possuem acesso ao evangelho ". Desde que cheguei em Manaus, em 2006, fui bombardeado
com essa informação. Parecia-me um desafio e tanto alcançar estas dezessete mil comunidades,
mas a medida que eu interagia com os diversos ministérios missionários que Asas de Socorro
apóia, logo comecei a fazer perguntas sobre esses números: Quais são estas dezessete mil não
alcançadas? Onde estão? Quantas são na verdade? O que é preciso para alcançá-las? O Projeto
Fronteiras é resultado destas perguntas e tem se proposto a identificar a quantidade, localização
e perfil das comunidades tradicionais ainda sem acesso ao Evangelho.
Num mundo em que tanto números quanto verdades são relativizados e a igreja se parece cada
vez mais com o mundo, todo tipo de ensino, doutrina e "evangelho" aparece a cada dia. Numa
sociedade onde todos tem liberdade de expressão e o acesso ao conhecimento das Verdades
Bíblicas nunca esteve tão disponível, ainda há muita gente sendo escravizada ao invés de liberta
pela Verdade da mensagem mais libertadora que existe no universo, que Jesus salva, e que isso
é de graça.
Enfim, a mensagem de libertação total de todo e qualquer jugo precisa ser pregada e reafirmada
para nós mesmos a cada dia, para que nós a preguemos adiante corretamente. Não só porque ela
é uma verdade absoluta e inegociável, mas também porque nosso tempo para pregá-la está se
esgotando. Estamos às vésperas do retorno do nosso Senhor, e a convicção desta percepção se
confirma a cada dia que abrimos um jornal, vemos os noticiários e constatamos que tudo o que foi
profetizado sobre os últimos dias está se cumprindo numa velocidade alucinante, como nunca
visto antes. Esta certeza e esperança devem nos constranger e nos impulsionar para que a única
coisa que realmente faça sentido seja dedicarmos a nossa vida à proclamação do Evangelho a
toda criatura. Ou seja, cumprir a ordem de pregar o evangelho até os confins da terra nunca foi tão
urgente como agora.
Este senso de urgência nos impele a proclamar a mensagem de Cristo o mais rápido e
eficazmente possível a cada habitante da selva amazônica de nossa própria geração. É
tremendamente importante que cada geração se comprometa a alcançar sua própria geração,
pois a nossa geração já terá partido quando a próxima geração assumir a tarefa, ou seja, eu não
posso me conformar com a idéia de que pessoas morrerão, em minha geração, sem a
oportunidade de ouvir a Boa Nova. Ainda mais porque é bem provável que sejamos a última
geração.
Mas como tornar isso possível? As barreiras são enormes e os recursos sempre parecem tão
escassos. Precisamos cumprir o Ide de Jesus de forma eficaz e eficiente. Ou seja, com a
mensagem de libertação verdadeira e antes que seja tarde demais.
Com esse pano de fundo, o Projeto Fronteiras surgiu com o intuito de ser mais um catalisador
deste processo. Existem dezenas de iniciativas missionárias na Amazônia, e porque não incluir
também o Nordeste do Brasil, onde ainda existem populações remotas que vivem na ignorância
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do Evangelho. O grande diferencial na tarefa de proclamação nestas regiões ou para essas
populações é o grau de dificuldade de acesso para que a mensagem da Boa Nova possa ser
transmitida. As barreiras são várias, tanto geográficas, quanto culturais, sociais, econômicas e de
comunicação. É diferente da maior parte do país onde o acesso ao evangelho é relativamente
fácil dado o acesso aos diversos meios de comunicação e a grande variedade de ministérios
evangelísticos atuantes nos centros urbanos.
Portanto, para qualquer grande empreendimento são necessários basicamente 3 elementos
fundamentais: Precisamos de 1. Informação, 2. Direção, 3. Ação.
1. No processo de reunir a informação, que iniciou em meados de 2012 com o mapeamento das
comunidades tradicionais do Amazonas, temos aprendido muitas coisas sobre a localização e
características das áreas ainda carentes da presença do evangelho, mas quero destacar aqui
alguns outros aspectos que nos chamaram atenção durante as mais de cem entrevistas que já
realizamos com pastores e obreiros no interior do Amazonas.
1.1. Há um exército de discípulos do Senhor embrenhado na selva, das mais diversas
denominações, missões, igrejas, culturas e origens, dando suas vidas, se sacrificando, para que a
Boa Nova do evangelho chegue aos não alcançados. Eles vivem em desprendimento da nossa
sociedade urbana e consumista para uma vida de privação e desafios enormes de sobrevivência
e muitas vezes em solidão, isolados pela geografia e distância, mas dedicados ao serviço do
Senhor entre indígenas, ribeirinhos, quilombolas e outros grupos. Estes homens e mulheres são a
grande força missionária da igreja, mas muitas vezes deixados a sua própria sorte por aqueles
que os enviaram. Não basta uma igreja missionária ser comprometida com o envio e abertura de
novos campos. Precisa ser também comprometida com aqueles que envia, pois, essencialmente,
a proclamação do evangelho não se dá por meio de construções de capelas e templos ou da
infraestrutura disponivel, mas pelo agir, falar ou proclamar daqueles que vão e pregam. O
elemento humano é o mais importante no processo missionário. Ele faz parte de todo o processo
e precisa de um cuidado mais do que especial. Essa barreira do cuidado adequado com o obreiro
ainda é um obstáculo maior para a expansão do evangelho na Amazônia do que o isolamento da
selva em si, pois até há pessoas dispostas a ir, mas muitos acabam não conseguindo permanecer.
Portanto, a supervisão pastoral precisa estar mais atuante quanto mais na ponta da lança o
obreiro está. Temos visto exemplos bem sucedidos e também péssimos exemplos durante a
pesquisa de campo. O cuidado pastoral com o obreiro é essencial nos dias de hoje.
1.2. A garantia da qualidade da mensagem proclamada é outro fator essencial na estratégia de
alcançar cada habitante da floresta. Se a mensagem não libertar o homem, pouco adianta.
Portanto, uma teologia de salvação exclusivamente pela graça, inteiramente cumprida pelo Cristo
100 ‰ Deus e 100 % homem é indispensável. E para garantir isso, o preparo e capacitação
destes obreiros, na sua maioria leigos, deve também fazer parte essencial de qualquer estratégia
missionária. Ainda melhor se essa capacitação se dá o mais perto possível de seu contexto
missionário. Portanto, capacitar e preparar esse exército de discípulos "in loco" é vital para a
evangelização da Amazônia. O antigo modelo que traz os vocacionados do interior para
estudarem na capital não funciona mais na maioria dos casos, pois dificilmente esse obreiro
voltará para suas origens. Da mesma forma, o modelo tradicional de envio de missionários
transculturais para o Norte e Nordeste do Brasil ainda é válido, mas nem sempre eficiente.
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Estes dois aspectos são características relacionadas com o perfil da geração atual. Antigamente
os missionários tinham um perfil mais autosuficiente do que hoje.
1.3. O trabalho missionário nunca será concluído por uma nem duas ou três organizações ou
igrejas. Por mais que o chamado para alcançar o mundo para Cristo seja um chamado para a
igreja local, o desafio missionário na Amazônia é muito maior do que qualquer igreja ou
organização. O modelo denominacional que valoriza a competição não se sustenta biblicamente e
várias lideranças já reconhecem que não precisam atuar onde outros estão presentes. Ao mesmo
tempo em que a sobreposição de trabalhos missionários deve ser evitada, as parcerias com
propósito de criar uma sinergia pela eficiência e eficácia da expansão do Reino de Deus precisa
crescer e se desenvolver cada vez mais.
2. Portanto, o Projeto Fronteiras quer ser mais um facilitador destas parcerias, iniciativas e
atuações missionárias, disponibilizando as informações e dados obtidos em suas pesquisas de
modo que a igreja brasileira possa ter um direcionamento mais objetivo para alcançar as regiões
menos evangelizadas do Norte do Brasil. Queremos ajudar a construir pontes entre a Igreja e o
campo missionário.
3. Além disto, também incentivar e fazer parte das ações de evangelização, apoiando equipes
missionárias, envolvendo parceiros e voluntários no processo de pesquisa e colocando sua
estrutura e equipe a disposição de todas as iniciativas que visam alcançar os últimos rincões
remanescentes sem a presença do evangelho no Brasil.
Muitas outras coisas tem sido aprendidas durante a pesquisa de campo e outras ainda
aprenderemos no decorrer do projeto. Precisamos manter nossos olhos e ouvidos atentos às
necessidades do campo missionário, em humildade, a fim de podermos disponibilizar
informações confiáveis e valorosas para a Igreja Brasileira, para que ela possa receber a direção
do Espírito Santo e completar a Grande Comissão ainda em nossa geração.
Toda a Glória a Deus
Márcio Rempel - Projeto Fronteiras
Dezembro de 2014.